Aplicar técnicas científicas das áreas da física, química, biologia e demais ciências com o objetivo de estudar objetos do patrimônio cultural. Essa é uma definição simplificada da arqueometria, ramo interdisciplinar que surgiu na metade do século passado e tem sido cada vez mais empregada por museus e profissionais da área de arqueologia e história da arte para estudar objetos de alto valor histórico, artístico e cultural. Antes do seu desenvolvimento, o estudo dos objetos era feito a partir do conhecimento e experiência dos pesquisadores da área. Agora, os profissionais que atuam no patrimônio cultural têm a possibilidade de empregar métodos analíticos em seus estudos, obtendo uma grande quantidade de informações desses objetos únicos, ou seja, enriquecer e aprofundar a análise extrínseca com informações intrínsecas.

As técnicas empregadas na arqueometria são variadas e cada uma fornece um dado específico da obra estudada: composição química elementar, molecular ou mineralógica, estimativa da idade, análise da superfície e da estrutura interna, processos de corrosão, dentre outros. As informações ajudam a enriquecer o conhecimento sobre a obra, criando um banco de dados que pode ser usado em pesquisas da área, processos de autenticação, procedimentos de restauro ou em estudos de degradação de materiais, como em pigmentos e ligas metálicas. Devido a essa versatilidade, a quantidade de trabalhos de pesquisa tem aumentado consideravelmente nesses últimos anos no país. Isso foi possível graças a uma maior divulgação da arqueometria dentre os profissionais e também pelo desenvolvimento de equipamentos científicos portáteis com alta capacidade analítica. A portabilidade era (em algumas situações continua sendo) um problema desafiador, pois, na maioria dos casos, os objetos não podem deixar os museus e igrejas, seja pelo seu valor, tamanho, massa ou mobilidade.

O Grupo de Física Nuclear Aplicada (GFNA) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) começou a publicar resultados de pesquisas em arqueometria em 1994. Em quase 25 anos de atuação nessa linha de pesquisa, o grupo desenvolveu dezenas de trabalhos, também realizando pesquisas in situ, em museus, igrejas e sítios arqueológicos de pinturas rupestres, além de contribuir com a formação de recursos humanos em nível de pós-graduação. As principais técnicas empregadas em nossos trabalhos são a Fluorescência de Raios X (análise elementar), a Microtomografia Computadorizada por Raios X (análise da morfologia e quantificação de fases), a Espectroscopia Raman (análise molecular) e a Difração de Raios X (análise mineralógica).

No Brasil, a maioria dos grupos de pesquisa está no eixo SP-RJ-MG, mostrando que ainda temos um longo caminho a percorrer em infraestrutura para a pesquisa e na formação de profissionais interdisciplinares, considerando as dimensões continentais e o rico acervo artístico e cultural do país. Apesar de não termos políticas públicas bem delineadas a respeito do patrimônio cultural como em outros países, a exemplo de França e Itália, estamos nos desenvolvendo na direção correta. A criação da comissão episcopal pastoral para os bens culturais da CNBB é um exemplo de ação que, sem dúvidas, irá contribuir para a disseminação da arqueometria no Brasil, ampliando a rede de colaboração de profissionais da área e ajudando a conhecer, pesquisar e conservar os objetos tão valiosos para a Igreja e para o povo brasileiro.

A colaboração entre físicos, químicos, biólogos e engenheiros com arqueólogos, historiadores e conservadores auxiliam a compreender mais profundamente as características das obras, reescrevendo a sua história e, desta forma, reescrevendo também a nossa história. É desafiador. É empolgante. É arte e história com ciência!

Para saber mais sobre parte dos trabalhos em arqueometria desenvolvidos pelo nosso grupo, acesse a página http://www.uel.br/grupos/gfna/arqueometria.html

 

Dr. Eduardo Inocente Jussiani

Dr. Carlos Roberto Appoloni

Laboratório de Física Nucelar Aplicada (LFNA) – Universidade Estadual de Londrina (UEL)

www.uel.br/grupos/gfna/