Vicariato da Educação realiza primeiro simpósio

O mês de fevereiro é tradicionalmente conhecido por dar início ao período letivo nas escolas em todo país. Porém, neste ano, ele também marcou a abertura dos trabalhos do recém-criado Vicariato Episcopal para a Educação na Arquidiocese do Rio de Janeiro, com o primeiro Simpósio de Educação, que aconteceu no Colégio Santo Antônio Maria Zaccaria, no Catete, no dia 23.

O primeiro encontro contou com a presença de 400 participantes, dentre professores, pedagogos, educadores, diretores, tanto dos colégios católicos, como também das redes municipal e estadual de ensino, os quais refletiram a temática central que abordou “Igreja e educação no século XX”, discorrendo sobre as principais correntes pedagógicas do período, as quais influenciam também os pedagogos dos tempos atuais.

O simpósio teve quatro conferências, duas ministradas pelo professor Felipe Nery, que tratou sobre “As principais correntes de filosofia da educação do século XX” e a encíclica “‘Divini illius magistri’ e seu contexto histórico”. A terceira conferência foi conduzida por monsenhor Antônio Catelan, que também é membro da Comissão Teológica Internacional, que abordou “Os princípios da educação cristã na ‘Gravissimum educationis’”. Já o bispo animador do vicariato, Dom Paulo Romão, apresentou, na quarta conferência, “Os objetivos e metas da educação na Arquidiocese do Rio de Janeiro”.

Também estiveram no simpósio o vigário episcopal, padre Thiago Azevedo, o vigário adjunto, padre Jorge Luiz Vieira da Silva, padre Wagner Augusto Moraes dos Santos – anunciado como novo assessor eclesiástico da Pastoral da Educação na arquidiocese, e padre André de Souza – reitor do Colégio Santo Antônio Maria Zaccaria e capelão da Igreja Nossa Senhora Mãe da Divina Providência. O encontro foi encerrado com missa, presidida pelo Cardeal Orani João Tempesta.

O encontro também teve a participação do núcleo catequético da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no Pechincha, que realizou uma encenação sobre família e escola, do Coral Nossa Senhora do Loreto, em Jacarepaguá, e do Coral da Paróquia Nossa de Fátima Rainha de Todos os Santos, no Méier, que cantou durante a celebração eucarística.

Primeiro passo

Segundo padre Thiago, o simpósio foi um grande passo dado pelo vicariato. “Faz quatro meses que iniciamos os trabalhos e tem sido um tempo de graça. Toda longa caminhada começa com o primeiro passo e o simpósio foi o nosso primeiro grande passo. Se eu pudesse resumir a temática central em uma palavra, seria: identidade. A educação católica, seja nos colégios ou no ensino religioso confessional nas redes municipal e estadual, não pode abrir mão da nossa identidade católica. Isso é o que nos constitui e, assim, venceremos todos os obstáculos”, disse.

O sacerdote ainda completou destacando que outros eventos estão previstos no calendário, como um retiro para os professores, além de uma parceria com a Faculdade São Bento, para que os docentes possam realizar pós-graduação em ensino religioso na instituição. A data para o próximo simpósio será no dia 16 de março.

Analisar e identificar

Na primeira conferência, professor Felipe Nery evidenciou a importância de se conhecer profundamente cada corrente pedagógica para, consequentemente, identificar a corrente filosófica por trás da mesma. “É importante haver um estudo sobre os pedagogos e suas obras para que se possa perceber as diferenças e não se torne refém, alienado, ao que não conhece, pois muitos defendem muitas coisas sem conhecer. Quando estudamos a história da educação, percebemos a fragilidade, no sentido teórico, dos pedagogos atuais. É uma educação que tem produzido os problemas atuais”, esclareceu.

Na segunda conferência, o professor baseou-se na encíclica “Divini illius magistri”, do Papa Pio XI, publicada em 1929. “Essa foi a única encíclica que a Igreja produziu sendo integralmente sobre a educação. Nela, o Papa Pio XI, no período de teorias pedagógicas, que são as atuais, faz uma análise filosófica, mostrando os erros da pedagogia atual, mas também os pilares de uma verdadeira educação”, contou.

Igreja, família e sociedade

Na última sessão do Concílio Vaticano II, em 1965, segundo monsenhor Antônio Catelan, a Igreja deu uma resposta ao mundo quanto à velocidade das novas tecnologias e como elas poderiam afetar o cotidiano. “O documento se conserva muito atual, sobretudo, no nível de seus princípios, porque, quase 60 anos atrás, se intuiu que as mudanças rápidas produzidas pela tecnologia e, mais que tudo, no âmbito da comunicação, gerariam modificações muito profundas nas relações humanas, nas formas de comunicação entre as pessoas e, portanto, no modo de exercer a profissão e de conviver. Então, foi assim que se iniciou na Igreja uma reflexão em profundidade de como posicionar-se no campo da educação nesse mundo em rápida mudança. Como essas mudanças só se aceleraram, o documento deve ser considerado um ponto de partida e um referencial também. Os princípios do documento não mudam, são os mesmos, que devem ser enriquecidos e compreendidos, de modo a situá-los com os contextos e os novos desafios”, afirmou.

Monsenhor também ressaltou a importância do trabalho em conjunto entre família, sociedade e Igreja. “Essa é uma declaração a respeito da educação de modo amplo, especificamente sobre o papel da Igreja no mundo da educação e das instituições da Igreja dedicadas à educação, como escolas e faculdades. O documento está estruturado em torno de nove pontos, tendo alguns princípios que perpassam todos eles, sendo um dos principais a responsabilidade da família. Esse é um eixo central do documento. A sociedade e a comunidade eclesial são chamadas a colaborarem com a família no seu papel, sobretudo a escola é chamada a isso. Dessa forma, cabe a ela acolher e respeitar essa responsabilidade que é própria dos genitores e da família como um todo”, acrescentou.

Identidade e gestão

Já na quarta conferência, Dom Paulo Romão reforçou a necessidade de os colégios católicos não perderem sua identidade. “Uma educação verdadeira é aquela que responde aos anseios humanos. Evidentemente, deve ser uma educação católica, segundo a tradição, no sentido de que não se eduque de forma neutra. Propõe-se a riqueza de uma experiência que vem dos pais, na educação dos filhos, que depois querem que essa educação seja continuada no nível do conhecimento. Por esse motivo, os pais colocam os filhos nos colégios católicos, e é muito importante, da parte do colégio, a fidelidade à identidade católica no sentido de dar o ensino religioso de acordo com a nossa fé e tradição”, pontuou.

Por fim, o bispo acrescentou a importância de acompanhar e dialogar com o corpo docente. “Na sociedade em que vivemos, os valores estão a cada dia mais relativizados, e a visão católica é mais uma no meio da realidade, não é tão simples para os colégios, mesmo os católicos, manterem-se fiéis à tradição. O desafio é ajudar os professores, acompanhá-los, chamando sempre a atenção do ideal que deve ser seguido, em nível pedagógico e educacional. Buscaremos dar uma atenção particular aos colégios católicos, para ajudá-los, também, dada as dificuldades que muitos enfrentam em nível de gestão, a partir de uma associação de professores e diretores, a fim de contribuirmos através do diálogo. Queremos uma formação integral, muito além do mercado e do consumismo”, sublinhou.

Encerramento

Na missa que encerrou as atividades do simpósio, Dom Orani também celebrou cinco anos de cardinalato. Ele também recordou que a Igreja a qual é titular em Roma também é dedicada a Nossa Senhora da Divina Providência.

Na ocasião, o cardeal reforçou a importância de o vicariato ser a presença da Igreja tanto em meio às instituições católicas, bem como nas redes públicas de ensino. “Queremos colocar no Altar todo o nosso projeto para a educação na arquidiocese. Temos uma missão muito importante. Nesse dia, falamos de forma específica sobre a educação católica, porém o vicariato é destinado à educação como um todo, sendo presença da Igreja na caminhada educacional de nosso município. Portanto, louvamos e bendizemos a Deus por esse dom, por essa graça, pedindo para que o dia de hoje produza muitos frutos no setor do ensino em nossa região”, completou.

Para o reitor e capelão, padre André, a oportunidade de sediar o encontro foi uma providência, haja vista que o Colégio Santo Antônio Maria Zaccaria comemora, neste ano, 110 anos de fundação. “Foi uma emoção muito grande acolher o simpósio, primeiro porque sou neossacerdote, e agora estou me envolvendo com a educação católica. Acredito que foi uma providência de Deus poder ter tido essa experiência com o vicariato, que também está nascendo agora. É tudo muito novo, é o novo de Deus que estamos provando. Foi uma alegria ter contato com o núcleo da educação católica da arquidiocese, além de podermos contribuir com o vicariato justamente no ano em que nosso colégio completa 110 anos de fundação”, finalizou.

Próximos encontros

As datas para os próximas reuniões em 2019 são: 16 de março, 13 de abril, 15 de junho, 13 de julho, 10 de agosto, 14 de setembro, 19 de outubro e 9 de novembro. Para participar, os interessados devem sempre fazer as inscrições através do e-mail [email protected].

Priscila Xavier

 

 

 

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