Há poucos dias, no Brasil, completou-se o primeiro mês da implantação de medidas de isolamento e distanciamento social, de modo que não há novidade alguma na afirmação de que a pandemia do novo coronavírus (COVID-19) trouxe grandes transformações, mudando a maneira como olhamos para o mundo e nos relacionamos com as pessoas. Com as preocupações inicialmente voltadas para a saúde e para as questões econômicas, não demorou muito para percebermos que os impactos da pandemia alcançariam também outras realidades, a exemplo da segurança pública, da educação e da cultura. 

Apesar da atenção primordial, e necessária, à área da saúde, o setor cultural desponta como um dos mais afetados pelas medidas de prevenção recomendadas pela Organização Mundial da Saúde e adotadas por vários Estados e Municípios, tendo em vista ser o responsável pela promoção de atividades que geralmente são foco de aglomeração de pessoas, como shows, sessões de cinema, exposições, espetáculos teatrais, dentre outras.  

Os decretos que limitam a grande circulação de pessoas e a aglomeração acarretaram o fechamento de salas de cinema (filmes deixaram de estrear), o cancelamento de shows, festivais e espetáculos teatrais, o fechamento de museus, causando impactos no âmbito cultural que vão desde as repercussões financeiras para todos os envolvidos, do artista ao público, aos benefícios que a cultura proporciona para o bem-estar e saúde mental das pessoas.  Para o Pe. Danilo Pinto, assessor do Setor Bens Culturais, “a pandemia obrigou o mundo a uma inflexão. Tínhamos um jeito de cuidar do bem comum, desenvolver a economia, cultivar a vida de fé, estabelecer as relações sociais e, também, de fazer as experiências culturais. Este “saber fazer” antigo está passando por mudanças profundas, porque o mundo está num processo acelerado de mudança. Agora, temos testemunhado o surgimento de outra política, outra economia, outra religiosidade, outros relacionamentos sociais e, também, de outra vida cultural”.

Os efeitos da pandemia do COVID-19 no âmbito cultural serão sentidos durante muito tempo, mas mesmo diante desse cenário repleto de desafios e dificuldades, muitas experiências têm despontado ou ganhado destaque, encontrando nas novas tecnologias uma forte aliada, utilizando-as como um mecanismo de aproximação do público e de sustentabilidade. Muitos artistas e gestores de equipamentos culturais têm olhado para este momento de crise como uma oportunidade para exercitar a capacidade de reinvenção, de adaptação ao ambiente digital e para pensar novas estratégias para fidelizar e atrair o público. 

Ao redor do globo começaram a surgir experiências culturais, a partir das diversas expressões artísticas, que inicialmente tinham o objetivo de ser um incentivo a permanência das pessoas no isolamento. As transmissões ao vivo feitas pelas redes sociais, agora popularmente conhecidas como “Lives”, caíram no gosto do público e dos artistas, cantores, grupos musicais e até orquestras. Nesse período, os amantes da literatura podem contar com as plataformas que disponibilizam o download gratuito de vários títulos, e os cinéfilos encontram um alento nos serviços de streaming. 

Muitos museus, antes mesmo do fechamento em razão da pandemia, já disponibilizavam ao seu público a possibilidade de realizar uma visita virtual, o que passou a ser intensificado. Além das visitas virtuais, alguns museus promovem atividades educacionais, realizando palestras, debates e oficinas nas suas redes sociais. Outro exemplo de mobilização cultural é a iniciativa conjunta da agência de notícias do Vaticano, Vatican News, e dos Museus do Vaticano intitulada “A Beleza que Une”, que disponibiliza nas redes sociais obras-de-arte das coleções vaticanas acompanhadas por reflexões dos Papas. Para Dom Gregório Ben Lamed, “A iniciativa do Santo Padre presenteou-nos com as mais belas obras realizadas pela genialidade artística dos povos, ensinando-nos que a beleza da vida consiste em fazer das atitudes humanas uma obra de arte”.

Nos próximos dias Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e Educação dará seguimento a sua série de notícias sobre as experiências culturais no contexto de distanciamento social, apresentando opções que podem compartilhadas com a família e com os amigos. 

Por: Dra. Taciane Barros, Diretora do Instituto Feminino da Bahia.

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